A dialética verdadeira é o Diálogo, que move o universo e todas as coisas e pessoas

A palavra “dialética” vem de uma palavra composta grega, “dialektik”, junto “dia” (“dois”) e “lektik”, de “ensino”, “paidos”. Está ligada à palavra “diálogo”, de “dia” (“dois”) e “logos”, “razão”, a união de duas ou mais razões pessoais formando, analogicamente, como que uma “consciência social” para a sociedade.

Platão, no “Crátilo” (n. 390c), usa o termo “dialética” para designar a habilidade de discutir por perguntas e respostas, por questões, sendo este o estilo e a forma do pensamento de São Tomás de Aquino, sempre usando o diálogo, em questões, onde as opiniões diversas são cotejadas, para obter boas sínteses. Xenofonte, ao expor o método de Sócrates, a “maiêutica” (“parto”, geração de idéias), usa o termo “dialética” como “conversação” com questões, “diálogo”. Este foi o método usado por Platão para expor suas idéias e as idéias de Sócrates. Também foi este o método de Santo Tomás de Aquino, nas duas “Sumas”, onde expõe os assuntos por uma questão, com respostas, réplica e conclusão. Era este o método escolástico. Toda a vida social é pautada pelo diálogo, ponto que Shakespeare, o mestre dos diálogos, soube destacar em suas obras magníficas. O próprio Deus se move pelo Diálogo, pois a Trindade é o Diálogo interno em Deus, em três pessoas, que buscam bilhões e trilhões, para integrar a Trindade, formando um Deus participativo, que integra bilhões ou trilhões ou mais à Sua Essência, num Diálogo eterno e criativo. Fomos feitos para sermos membros, filhos de Deus, partes da Comunhão divina, associados à Trindade, uma Comunhão de libertação e ascensão. 

Aristóteles usa o termo “dialética” para designar as discussões práticas, baseadas em raciocínios prováveis (cf. “Analíticos”, I, IV, 46; e “Metafísica”, II, 1, 995).

As pessoas tomam decisões com base em três tipos de conclusões: 1º.) raciocínios claros (com demonstrações perfeitas, juízos apodíticos), em geral aplicáveis à matemática e a algumas questões científicas; 2º.) raciocínios prováveis, tópicos, baseados em máximas de experiência ou dados aceitos por todos, consensuais (“dialética”, estudada no livro “Tópicos”); e 3º. ) opiniões sem muita base (estudadas no livro “Retórica”).

Os raciocínios tópicos são, em geral, entimemas, com premissas subtendidas, acolhidas consensualmente. Nos assuntos práticos, é o método principal e mais usado. A pessoa não tem certeza absoluta, mas certeza moral, bem provável e, assim, decide. Decidimos questões éticas com base nos juízos mais prováveis, ponto que Santo Afonso de Ligório, um dos 33 Doutores da Igreja e o Padroeiro da ética, aclarou, como foi bem exposto nos livros de Marciano Vidal. Há o mesmo ensinamento em Pio XII, num lindo discurso penal, perante a Rota Romana, o maior Tribunal da Igreja, onde enfatiza as certezas relativas, para condenar, certezas além de dúvidas razoáveis. 

A maior parte das decisões humanas é baseada em raciocínios (silogismos) tópicos, prováveis, com base nos consensos humanos (“lugares comuns”, “tópicos”, proposições, premissas espalhadas, consensuais), no diálogo humano (com os vivos e com os mortos, pela tradição histórica, o patrimônio cultural da humanidade). A ética é baseada no que é “conveniente” à razão e ao bem comum.

O termo “conveniente”, em português, é a tradução do termo “kathékon” (em grego) e “officium” (em latim). Como explicou Cícero, no tratado “Dos ofícios”, para sermos felizes devemos agir da forma mais conveniente ao bem comum, ao bem de todos.

A Igreja, ao adotar o equiprobabilismo ou probabilismo moderado, como método da teologia moral (cf. Santo Afonso de Ligório), foi fiel à natureza humana. Os atos estatais (sentenças, atos administrativos, votações em projetos de leis etc) são, quase todos, baseados em certezas morais, em verdades prováveis, não tão claras. Por isso, é natural o diálogo, os conflitos e o pluralismo, tal como a liberdade de pensamento, de expressão, a liberdade política, tal como outras liberdades civis, sempre em adequação com o bem comum.

O diálogo é a mãe da maior parte de nossos raciocínios e a própria estrutura do raciocínio (do silogismo) é discursiva, por encadeamento de proposições, por graus, por uma forma de diálogo.

Conclusão: o logos humanos reflete nossa natureza pessoal e social, pois a razão humana é dialógica, discursiva, social, política, comunitária, movendo pelo diálogo, que é o logos humano, à imagem do Logos divino. O Logos divino move-se pela via do diálogo interno na Trindade e com base no diálogo (comunicação) com as pessoas, buscando filhos, seres livres, buscando sempre a libertação pessoal e social.