A teoria democrática popular sobre o poder, do Vaticano. O povo deve gerir o Estado e a sociedade

O Vaticano, por um editorial da revista “La Civiltà Cattolica” (n. 3.301, ano 139, vol I, p. 3-16), sintetizou corretamente a teoria cristã e católica sobre o poder, nestes termos:

“.. a teoria da soberania popular, sobre a qual se fundamenta a democracia, já cerca de dois séculos antes de Rousseau, foi propugnada e defendida contra o absolutismo e o direito divino do rei, sustentado pelo rei da Inglaterra, Jaime I, por dois teólogos católicos, Francisco Suarez e Roberto Bellarmino.
Assim, este último [São Roberto Bellarmino], nas suas “Controversie” (T. II, I. 3, “De laicis”, c. 6), afirma que o “o poder reside imediatamente, como no seu sujeito (“tanquam in subjectoo”, como em todo o povo (“in tota multitudine”): que “o poder é transferido do povo para uma ou mais pessoas pelo próprio direito natural (“eodem jure naturae”), que “os diferentes tipos de governo são do direito das gentes, e não do direito natural; de fato, depende do consenso do povo constituir, para governá-lo, um rei, ou governadores ou outros magistrados, como é claro; e, se há uma causa legítima, o povo pode mudar o reino em aristocracia ou em democracia, como lemos ter sido feito em Roma”.
Nota: São Roberto Bellarmino é um dos 33 Doutores da Igreja, autoridades máximas na Doutrina da Igreja.

O editorial de “La Civiltá”, revista dirigida pelos Jesuítas, sob o controle estrito do Vaticano, termina e conclui o artigo “Cristianismo e democracia”, como estas palavras:

“Portanto [pelo exposto], o poder é conferido por Deus, enquanto Autor da natureza e da sociedade, ao povo, que o transfere aos governantes, permanecendo sempre com o poder de mudar o regime político. A soberania popular, por isso, não está em contradição com a afirmação cristã de que Deus é a origem da autoridade. Em conclusão, o cristianismo não é ligado a nenhuma forma de regime político, mas há uma preferência pela democracia e se julga em condição de proporcionar-lhe uma contribuição particular, para que seja verdadeira e sã, e promova o verdadeiro bem do homem [o bem comum]. Como escreveu Jaques Maritain, “a democracia tem muita necessidade do fermento evangélico para se realizar e para perdurar” (“Cristianismo e democracia”, cit., 48)” [texto colhido da revista “Cultura e fé”, n. 40, de janeiro e março de 1988, p. 25).

A revista “Civiltá Cattolica” foi fundada em 1850, pelo padre jesuíta Carlo Maria Curci (1810-1891), sempre ligada à filosofia cristã, especialmente à escolástica. Em muitos pontos, a revista funciona como porta-voz do Vaticano.